Numa outra edição, falei dos INFORTÚNIOS E CONSTRANGIMENTOS DOS MOTÉIS DE ANTIGAMENTE, rememorando algumas das coisas que eram bem desagradáveis nesse tipo de estabelecimento. Dias atrás, um amigo comentou sobre isso numa roda com um pessoal animado e então começaram a contar histórias engraçadas ocorridas em motéis (ou alguém acha que aconteceram comigo? que nada...).
Com as devidas autorizações e as garantias totais de anonimato, trago a vocês essas três epopeias um tanto curiosas e definitivamente constrangedoras. Por óbvio, fugimos do óbvio: nenhuma envolvendo cônjuge dando flagra, brochadas ou coisa do tipo. São histórias realmente fora dos padrões usuais.
UMA MÚSICA ATRAPALHA O RECO-RECO
Um jovem casal, ambos universitários de humanas, foi ao motel para as deliberações cabíveis. Lá chegando, considerando o gosto musical apuradíssimo da dupla, trataram de colocar numa rádio que consagrasse a boa e velha música popular brasileira (tudo naqueles tecladinhos malucos e um seletor doideira).
O rapazola tratou de fazer as vezes e sintonizou na Rádio Cultura AM, que era muito mais “roots” do que as rádios FM de MPB. Tudo porque, certamente, sabia dos poderes afrodisíacos de uma música do Zé Geraldo ou, além disso, tinha a plena convicção de que a libido dispara ao som de Uakti; mais ainda: é notório que ninguém resiste a um solo de Egberto Gismonti com seu violão de 237 cordas.
E assim foi, começou a rolar a tal MPB um tanto fora do maistream e assim deram andamento aos trâmites que os fazia estar num motel. Acontece que, em dado momento, começou a tocar o HINO NACIONAL BRASILEIRO. Sim, o Hino! Disse ele que estava já com a partida em curso e não tinha como parar tudo para desligar, mas por volta de “DO QUE A TERRA MAIS GARRIDA” não foi possível prosseguir.
Ambos caíram na gargalhada e ele correu desligar o rádio. Segundo ele disse, era comum ter execução do Hino Nacional em determinados horários na Cultura AM (lembro que na TV Cultura a programação era encerrada assim). Claro que, ao ouvir esse relato, a turma começou com piadas nível “bandeira a meio-pau” e coisas do tipo.
AGRURAS COM O TETO SOLAR
Em tempos idos, ainda sem a moda dos drones, isso era um detalhe que muitos motéis divulgavam com orgulho. Não raro, suítes com teto solar eram aquelas mais caras, que já tinham hidromassagem e outros que tais. Foi com esse espírito que o parça deste relato levou sua pequena.
Claro que exatamente NINGUÉM faz questão de não haver um teto na hora do sapeca-iá-iá, mas JÁ QUE O CAMARADA PAGOU ele resolveu acionar a abertura – para efeito de comparação, a velocidade, o barulho e até mesmo a “elegância” são similares aos de um portão de garagem de prédio.
E assim foi a noite dos pombinhos, que não puderam olhar as estrelas porque o motel ficava na Grande São Paulo. Ter teto solar em um lugar assim já é dureza, mas ABRI-LO para contemplar o cinza escuro, é bisonho.
Pelas tantas, também durante os procedimentos, começou uma leve garoa. Mas é aquilo... Cai uma gotinha, cai outra, não dá para parar, tá tudo fraquinho, mas eis que vira uma garoa mais forte. É hora de parar e fechar o teto.
Isso teria acontecido na hipótese de o mecanismo funcionar. O negócio simplesmente resolveu não funcionar no momento mais crítico, quase que fazendo birra – um teto solar com espírito de impressora, quem diria.
E a garoa forte virou chuva propriamente dita.
Disse ele que, diante da noite arruinada, argumentou sobre o não pagamento, mas encontrou resistência por parte da equipe (que, seja qual fosse o motel, não era famosa pela simpatia). No fim, parece que saíram mesmo sem pagar. E sem fazer outras coisas também.
BATERIA ARRIADA
Não, não é sobre brochada. Avisei que o óbvio seria evitado. Neste caso, o casal foi para a suíte e a coisa começou a aquecer ainda no veículo, onde alguns prolegômenos foram executados. E então continuaram no quarto, como seria mesmo esperado.
Desta vez, não se trata de uma história com interrupções. Parece que tudo deu certo no que diz respeito ao teretetê corpo-a-corpo. Inclusive, disse ele (sob olhar não tão crédulo dos demais), teria havido até mesmo um repeteco.
E assim, com a sensação de missão cumprida, foi com sua parceira até o veículo para que saíssem de lá. O problema é que o carro não ligava. Sim, foi essa bateria que arriou. Motivo: deixou o toca-fitas ligado.
Considerando que se trata de um TOCA-FITAS, presumível concluir que não havia esse negócio de chamar o seguro e aparecer alguém com uma motoca e uma bateria para (segurem a quinta-série, em que pese o lugar adequado para tal): fazer uma chupeta. Nem sei se havia guincho.
A solução foi o famoso “tranquinho”, mas parece que a moça não gostou disso. Primeiro, claro, porque não queria ser vista (hoje as coisas são mais liberais, mas naquela época havia um grande constrangimento); segundo, porque não queria fazer parte do MUTIRÃO DO TRANQUINHO (aquela galera que se junta para empurrar o carro).
Mas quem, afinal, empurraria? Uma pessoa na portaria, o pessoal da cozinha, um ou dois seguranças, arrumadeiras. Esse pessoal todo iria colaborar? Parece que sim, mas a moça ficou na suíte até todos irem embora. Ainda segundo o narrador, foi o último encontro deles.
PORTANTO
Além de situações constrangedoras que faziam parte da rotina normal dos motéis, também havia o risco (é claro) de acontecer algo ainda mais constrangedor. Claro que mesmo diante de tudo isso, a gente ia, porque não havia o tanto de opção que se tem agora.
E essas histórias depois rendem gargalhadas, seguindo a máxima: o infortúnio bizarro de hoje muitas vezes é o entretenimento da rapaziada de amanhã. E vamoquevamo.
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